domingo, 4 de setembro de 2011

Um homem sem nome

"Outro desastre", dirão os jornais amanhã.
O meu retorno ainda vai enriquecer muita gente
Os tablóides são uma mina de ouro
ainda mais com desastres literários e pessoais como o meu dando sopa
Esses anos longe só me deixaram mais cansado e mais cínico
envelheci uns 30 anos
A América não é lá grandes coisas
Entre o Eu e o Tu cabem mil poemas e a única coisa que eu consegui compor foi uma tragédia
logo eu que nunca fui bom de prosa
Mas a minha paciência acabou e eu vivo de vomitar palavras
Já não sei como desenhá-las
Só as boto para fora sem nenhum rigor, nenhuma métrica
e sei lá eu o que é belo nesses dias
Sou um homem fora de moda e os antiquários não são bem vistos por aqui
deve ser por causa do cheiro
Como essa cidade mudou, tudo passou
Menos esse travo na garganta
mesmo medicado ainda sinto náuseas
deveria abandonar o café, pois este já me abandonou
desistiu de me confortar
A América realmente não vale nada
Tirou meus prazeres e minhas lágrimas
O tempo anda muito seco
essa tosse me maltrata a voz e eu ando preferindo o silêncio
Só gosto do barulho que eu não controlo, que é indiferente à minha vida ou morte
o som que eu posso tornar vivo me incomoda
E esse livro que não soube escrever
e eu dependendo de colher o pão de cada dia
Outro desastre na literatura
Manchei meu nome
Salguei minhas palavras
Me perdi no infinito das coisas que eu conhecia
Talvez me encontre naquilo que não compreendo
Francisco morreu. Preciso de um novo nome.

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